Quase tudo na natureza é admirável, se queremos encontrar algo não admirável teremos de nos remeter a uma parte especifica dessa mesma natureza: o Ser Humano

Tudo é relativo, tudo o que possamos dizer ou fazer depende da nossa vivência, daquilo em que acreditamos. O sentimento de admiração é um reflexo por de mais que evidente da nossa condição interior, todas respeitáveis, mas nem todas admiráveis.

Quem ambiciona por exemplo, ser um grande jogador de futebol, vai nutrir admiração por um jogador de sucesso, sendo uma forma de projetar a sua ambição e desejo. Admira-se o desempenho mais do que a pessoa, admira-se o resultado e poucas vezes o processo para chegar lá. Admira-se a visibilidade, a fama e o sucesso e nem tanto a força interior e o sacrifício que é necessário para se atingir um estatuto de alta competição.

A tendência é admirar o que está no topo, o que se revela melhor que a maioria. Vibrar nesta admiração é identificar-se e trazer a si um pouco desse sucesso, agregar-se aos melhores para se sentir bem-sucedido. Vemos muito isso no desporto, no clubismo exacerbado, mas também em muitas outras áreas da vida, como nas redes sociais o exemplo dos chamados “influencers” que é o equivalente ao pastor e às suas ovelhinhas submissas que o seguem.

Estamos a bater no fundo da dignidade humana e daquilo que mais devemos valorizar que é a nossa individualidade e a capacidade de pensar e criar a nossa vida.

Quem é admirável é quem pensa por si e rejeita o sistema, não contestando, mas apenas saindo sem alarido, apenas por opção. Quem rejeita e ainda contesta, ainda faz parte do sistema, está lá a tentar mudar o que quer que seja, tenta mudar os comportamentos dos outros em seu benefício ou da sua classe.

O sistema só muda quando não houver quem o alimente e para isso é preciso criar uma nova realidade fora dele, uma realidade que vem da consciência de cada um. Para dar espaço a essa realidade temos de olhar para dentro e procurar alternativas, procurar informação alternativa com a qual nos identifiquemos para podermos criar uma opinião e um identidade própria.

A tendência é admirar quem se molda às nossas opiniões e às nossas crenças, quem contraria isso não e supostamente admirável, mas sim contestável. Esta é a ideia subjacente ao sistema. Quem sai fora dele adquire a capacidade de admirar até os próprios inimigos, aceita o contrário, o oposto, como fator de crescimento, como algo que vem validar o que se é, o que se pensa e o que se sente.

O que é admirável não é o sucesso económico, pessoal ou profissional, mas sim os valores que emergem das pessoas. Devemos aprender a admirar a generosidade, a humildade, a cooperação, a compreensão, a disponibilidade para o outro.

Devemos admirar aqueles que na sua humildade fazem o melhor que podem por si e pelos seus; devemos admirar aqueles que tendo o poder da comunicação, se esforçam por levar a verdade aos noticiários; devemos admirar aqueles que assumem diariamente o risco da própria vida em prol dos outros; devemos admirar aqueles que doam o seu tempo; devemos admirar aqueles que têm coragem de romper com os seus grilhões emocionais e sociais; devemos admirar aqueles que seguem a sua vontade e o seu talento; devemos admirar quem não descrimina por qualquer razão ou crença; devemos admirar sim, os governantes que pelo seu esforço e interesse melhoram verdadeiramente a vida de um país ou de uma região; devemos admirar os empresários que distribuem os seus lucros pelos colaboradores e se preocupam com o seu bem estar social e familiar; devemos admirar quem ama; devemos admirar quem sorri apenas porque sim; devemos admirar também quem chora e aceita chorar; devemos admirar quem sofre e se tenta libertar pela consciência do sofrimento.; devemos admirar quem nos ouve e quem não recrimina nem julga.

Haverá muitos outros motivos de admiração no ser humano, mas todos eles terão sempre algo em como, eles serão o reflexo do bem, da bondade, do amor ao próximo e a si mesmo  Mudem-se os valores e logo o que é admirável adquirirá outro significado.