Desígnio de vida – Qualquer processo de entendimento do desígnio de vida, deverá ser assente no padrão vivido até ao momento presente. É aí que se encontram todas as respostas. O que nos é pedido em termos cármicos, está sempre longe daquilo que, numa primeira fase da nossa existência, consideremos um ideal de vida, a segurança material, o trabalho, a família, as relações etc. Não quer dizer que tudo isso não possa fazer parte da nossa vida, a diferença estará sempre no significado, na importância e na consciência que pomos em tudo o que nos chega e rodeia.

Impotência perante a vida – Quando a vida nos conduz a situações limite, onde somos confrontados com a nossa impotência perante a vida, é um sinal mais que evidente que houve algo no nosso passado que não vimos a fazer bem. Isto porque somos induzidos pelo padrão da vida passada, a cumprir e a repetir esses comportamentos para que possamos pela tomada de consciência, transcendê-los. É um desafio que nos é colocado que só é validado se aceitarmos essa mudança, muitas vezes radical em relação ao nosso estilo de vida, aos nossos valores, às nossas emoções, ao nosso comportamento  ou à nossa forma de pensamento.

Como começar – Inicialmente, mesmo sem termos a noção por onde começar e o que alterar, aceitar que há algo que terá de mudar na nossa vida já faz toda a diferença, porque aceitar é o início da busca, e querer fazê-lo é fundamental para que isso se venha a concretizar. Dedicar-se de corpo e alma a essa missão de transcender o seu carma que se comprometeu tentar resolver antes de encarnar nesta vida.

Reincidir – Tentar ultrapassar um momento de dificuldade, de doença ou acidente, na esperança de voltar ao suposto “equilíbrio”, à suposta segurança antes existente, isto sem antes adquirir consciência do porquê disso nos ter acontecido, é voltar ao estado inicial e pormo-nos a jeito de mais uma lição e de termos mais uma oportunidade de fazermos o que nos é pedido.

Perda de identidade – Aquilo em que as pessoas acreditam e valorizam para a vida, de um modo geral, está ligado aos valores do ego, valores materiais que habitualmente cumprem requisitos da tradição familiar e da sociedade. Valores que sempre nos arrastam para fora de nós e daquilo que devemos edificar como sendo a nossa identidade, a nossa essência. Acabamos por ser alguém que se mescla na amalgama social e no materialismo exacerbado, chegando ao ponto de perdermos completamente a noção de quem somos, porque na verdade não acreditamos em nada genuíno, acreditamos naquilo em que todos acreditam, seguimos a tendência, a moda, etc. E vamos lutando, trabalhando para cumprir esses valores e esses ideais. A determinada altura surge a dor e sofrimento, mas raramente temos a capacidade de os ver como oportunidade de mudança.

Quem somos – Quando atingimos idades com algum amadurecimento, repletas de experiências enraizadas nesses valores e começamos a ser confrontados com percalços, com contradições físicas, ou relacionais, é difícil entender que esses eventos são sinais que se destinam a mostrar-nos de uma forma indireta, que há outros rumos a seguir, há outros valores que podemos abraçar e que nos mostram a outra face da nossa vida os quais persistimos em ignorar até aí, que é face oculta da nossa existência, a ligação ao divino, à universalidade da nossa alma.

Demos entender por isso, que o lado material e egóico vivido até aí, é uma pequena parte, uma ilusão a ser vivida, mas que tem de ser ultrapassada pela tomada de consciência, para fazer crescer em nós a crença de que pertencemos a algo muito maior. É desse entendimento, dessa reformulação de crenças, pelo estudo e pela determinação, que conseguimos fazer nascer em nós a perceção de quem somos e de quais os padrões emocionais e morais de que nos vimos libertar.

É o facto de ignorarmos esta nossa dimensão espiritual que nos leva à doença, às privações e ao sofrimento.

Universo abundante – O Universo é abundante, ele expande abundância, traz-nos tudo aquilo com o qual nos sintonizamos, conscientemente ou inconscientemente. Poderemos assim ter abundância na alegria ou na tristeza, no amor ou no ódio, na saúde ou na doença, tudo é abundante e persistente, dependendo apenas de nós.

O chamado da doença – Ninguém adoece ou tem um acidente por acaso. Às causas físicas e biológicas estão subjacentes causas emocionais profundas, são elas que despoletam, que criam os padrões de comportamento que levam à doença. E uma vez que ela surge, deverá ser um grave sinal de alerta para o desvio enorme que estamos a viver do nosso processo cármico. Ninguém vence uma doença querendo manter o mesmo habitat emocional, social e de valores que viveu até aí, o máximo que vai conseguir é adiá-la ou prolongá-la no tempo ou esperar que outra surja. É importante observar a doença como um chamado, como uma necessidade de despertar para outra realidade. No fundo é isso que ela é, um recurso poderoso do universo para nos abanar e fazer sair da letargia em que estamos mergulhados. Quando a doença acontece, tudo pára, ela assume o papel principal e põe em causa o nosso estado, o nosso suposto equilíbrio. Somos retirados da rotina exatamente para dar- mos, em primeiro lugar, atenção ao nosso corpo e procurarmos as causas da enfermidade dentro de nós mesmos, depois olhar muito para lá do aspeto físico, pois ele é apenas a manifestação externa do sofrimento que incutimos à nossa alma que sofre silenciosamente e que usa como ultimo recurso, o que de mais visível tem à disposição, o nosso corpo. Chama-se evoluir pelo sofrimento, algo evitável se passarmos a ouvi-la e a seguir o que ela nos pede, que sempre é o melhor de nós e o melhor para nós.

A Cura – A cura física será alcançada, quando acompanhada da reformulação interna que devemos fazer, quando for estabelecido o equilíbrio emocional e a conexão com a nossa essência, quando as nossas células vibrarem na mais elevada e pura vibração. Quando também aceitarmos sair fora da caixa para nos assumirmos integralmente resolvendo finalmente dar luz à nossa criatividade rumo à serenidade do nosso ser. Com este processo interno de escuta atenta da nossa essência, fazemos também a ligação integral com o nosso corpo físico e percebemos a capacidade enorme que ele tem de se regenerar, de se curar de todas as enfermidades. Entendemos finalmente os verdadeiros milagres que acontecem a cada instante dentro de nós.

A Zona de conforto – Nem sempre é fácil entender que a cura de uma doença pode estar ligada a um padrão emocional ou de comportamento porque normalmente esses padrões e comportamentos residem na nossa zona de conforto, na zona que julgamos controlar. Soltar tudo isso é sempre de uma dificuldade imensa e nunca se consegue utilizando apenas a mente. A mente trabalha para a expansão da nossa zona de conforto, é ela que nos prende, por isso soltarmo-nos da mente é fundamental para termos um entendimento mais profundo do que temos de transcender.

Meditação – A melhor ferramenta disponível para trabalhar a mente, é sem dúvida a meditação. Todos os grandes mestres espirituais utilizaram essa prática abundantemente para se ligarem à sua essência e para atingirem a iluminação. Quem somos nós afinal para achar que não será esse o nosso caminho?  A prática regular da meditação vai pacificando gradualmente os impulsos mentais, abrindo o canal para novas realidades, novas perspetivas, novas formas de encarar os desafios da vida, criando uma nova consciência.

Também não é só fazendo meditação que se atinge um estado espiritual de consciência mais elevado. Este processo envolve muitos fatores, estudo, crença, prática e dedicação, mas acima de tudo uma curiosidade e fé imensa na busca e no entendimento de nós próprios, da espiritualidade e das leis do universo. Uma dedicação a tempo inteiro.

Novas crenças – Quando fazemos crescer em nós novas crenças, novos valores, o mais comum é sermos confrontados com alguma desadaptação ao que estávamos habituados. Algumas coisas deixam de fazer sentido, perdem a importância que tinham. Perdem-se hábitos, perde-se o estímulo por algumas relações, lugares que frequentávamos perdem completamente o interesse, assuntos que debatíamos e estudávamos dão lugar a novos. Há como que uma reavaliação das nossas crenças, das nossas prioridades, aquelas que nos fazem crescer pessoal e espiritualmente. Muda e o mundo mudará contigo e ao mudar teremos de aceitar as mudanças e a nova realidade que nos é proporcionada.

O Confronto – Este confronto com a realidade já vivida é muitas vezes a grande dificuldade de prosseguir em frente pois estamos a ir de encontro ao que a sociedade, a família, os amigos, estavam habituados a esperar de nós. Tudo isso funciona como um íman imenso que nos arrasta para essa zona de conforto, para voltarmos a ser o que as pessoas e o nosso ego esperam de nós. Vencer este obstáculo exige determinação, mas também muita aceitação. Pode ser preciso o afastamento de algumas relações e situações, mudar de trabalho, fazer novas escolhas e aprender em muitas alturas a dizer não. Tudo deverá ser possível a partir dessa tomada de consciência, todas as limitações que possam existir ainda residem naquilo em acreditávamos e não na nossa nova realidade. O caminho é sinuoso, mas muito estimulante também, quando encarado com alegria, consciência e gratidão em todos os momentos.

Todas essas mudanças surgirão de uma forma gradual e natural sem nenhuma espécie de esforço, apenas por que sim, apenas porque há uma vontade interna dentro de nós em expansão. Isto é o universo a retornar, a devolver de acordo com nova vibração em escolhemos estar.

A morte – A capacidade de aceitação é também um dos fatores mais libertadores, inclusive a aceitação da morte. O que será mais difícil que isso? Nada. O ideal é começar mesmo pelo fim, aceitar o fim deste ciclo e por entendimento no que virá a seguir. Tudo o resto vai perdendo peso e importância, tudo se torna relativo, aceitável e leve. E por vezes, é dessa leveza que passamos a experimentar na vida, que surge a cura, pela aceitação, aceitar a dor, vivê-la intensamente e por consciência no sofrimento para que ele não se propague no tempo.

O Ser espiritual – Este é um processo muito íntimo e profundo a ser vivido por cada pessoa, não é exclusivo de quem  se encontra doente ou em sofrimento, todos temos de o fazer, cada um com as suas nuances e características próprias. Infelizmente a maioria das pessoas vive as suas vidas sem ter a menor ideia de que o deve fazer, isto pelas mais variadas razões, ou porque ainda não chegou o seu tempo, ou porque tem de acumular mais experiências, as razões são imensas, não podemos generalizar. No entanto, o que se pretende não é que as pessoas se iluminem, que se transformem em gurus ou algo género. O que é pedido é bem mais simples, é apenas que cada um se ligue à sua essência, que se pacifique e que tome o máximo de consciência relativamente à sua dimensão cósmica e ao ser espiritual que é.

Carlos Dionísio

19/05/2021