O que leva qualquer pessoa a procurar um conhecimento mais profundo e rigoroso sobre a sua existência, é sempre um propósito interno inconsciente que a impulsiona a procurar respostas acrescidas de conteúdo para lá da mente e da perspetiva racional a que está habituada. Essa procura traz o contacto com a linguagem da Alma, por isso as pessoas sentem o conforto quando são tocadas pelos momentos onde ela está presente. O chamado é interno e as pessoas vão, procuram esse bem-estar, procuram a cura, a solução para os seus problemas, para os seus desafios da vida, quase sempre ligadas ao lado mais materialista, racional e relacional da vida.

Inicialmente querem sempre resolver e justificar a vida que têm a partir desses recursos. O apelo interno diz-lhes que essa é a via, mas confrontam-se na sua busca com o julgamento, com a sua ideia das coisas como se procurassem o remédio específico para os seus problemas e não uma mudança efetiva nas suas vidas. As pessoas focam-se nos seus dramas e buscam aí a solução através de um ensinamento, de uma prática ou de um amuleto.

A espiritualidade não pode ser confundida com práticas espirituais. O mais comum são as práticas espirituais e não a prática da espiritualidade.

A espiritualidade não é só uma forma de estar na vida, ela é a própria vida nos diferentes planos em que ela existe, não é algo que se possa resumir a uma prática semanal ou esporádica, ela tem de estar presente 24 horas por dia, em tudo que intuímos, sentimos, pensamos, vemos, ouvimos e falamos.

Não somos nós que estamos na espiritualidade, mas sim a espiritualidade que está em nós. Enquanto não nos entregarmos totalmente, já mais a sentiremos a tomar conta de nós, a embeber-nos da energia Universal que nos rodeia.

Muita gente se compromete e até pratica ou participa em práticas espirituais, estudos, cursos ou terapias. Comprometem-se apenas em ir, em estar lá nesses instantes, têm em si um propósito, um chamado que vai sendo alimentado aos poucos nesses instantes e nesses eventos. Depois desses instantes o comprometimento vai-se diluindo, mas o propósito continua lá adormecido à espera de outra oportunidade. Nunca vão fundo no comprometimento, que tem de ser diário e constante, em cada momento da vida, com muito estudo, busca e meditação.

Até recebem os ensinamentos, os exercícios práticos, mas não praticam, não deixam que esses novos ensinamentos façam parte das suas vidas a partir daí. Assim que esses momentos acabam, mergulham novamente no que era dantes e tudo volta ao início.

Falamos do comprometimento na vida sobre a vida, é esse destapar do véu que nos leva luz ao propósito.

O comprometimento requer aceitação, pede que soltemos o que já não nos serve, o comprometimento requer fé no desconhecido, requer fé na nossa intuição que é algo que não vem da mente, mas sim da alma. E preciso confiar no propósito, dar-lhe prioridade e aceitar tudo o que o comprometimento nos tira por um lado e nos devolve pelo outro.
O propósito pressupõe um comprometimento se não nunca será atingido. Um propósito sem comprometimento é desconfortável, puxa-nos da razão, coloca-nos no lado marginal da mente, esse propósito é desconfortável porque nos dá a sensação de vivermos numa pele que não é a nossa, é como um animal selvagem preso à espreita de cada oportunidade para se libertar, para fugir de si e ir ao encontro de si mesmo.

Depois do comprometimento sério, vem a redenção, a entrega à vida e à verdadeira razão de estar vivo, a redenção da Alma, do Ser mais puro que há em nós. É a resignação ao lado divino da nossa existência, uma submissão consciente e integrativa às leis do Universo, onde se entende profundamente o que é fazer parte desse todo.

Tão simples como isto.

Carlos Dionísio

27/07/2020