Quando paras de querer caminhas para o teu centro. Querer é uma forma de te relacionares com o que está fora de ti. O que é de dentro apenas aceita. Quando deixas de querer e passas a aceitar, o que vem de fora já não te afeta. Começas a relacionar-te apenas contigo próprio, com as tuas emoções, com as tuas perceções, com os teus medos e sentimentos. O que é teu é apenas o que se passa aí dentro, mesmo que venha de fora, se te afeta é teu, está de alguma forma dentro de ti.

Devemos tentar sempre, não  entender o Mundo, mas sim a interiorizar a perceção que temos dele. É isso que verdadeiramente importa porque é essa busca de entendimento que nos leva para dentro à procura das respostas que esse mesmo mundo espelha de nós.

A realidade exterior é igual para todos, os eventos, os factos, as boas e más notícias, chegam a todos exatamente da mesma forma, a perceção que cada um tem disso é que faz a diferença. Ser pobre, por exemplo, pode ser um sofrimento, um mar de lamentações para uns, e para outros uma forma simples de encarar a vida encontrando muitas vezes múltiplas razões para se ser feliz nessa condição.

O outro não existe, nunca existe, tudo se passa dentro do nosso cosmos interior, é aí que temos de encontrar todas as explicações. Todas as situações que vêm de fora e mexem de alguma forma connosco, não são mais do que provocações, desafios, sinais que nos convidam a voltarmo-nos para dentro porque o que nos faz agir e reagir está gravado no nosso inconsciente, é ele o nosso verdadeiro “sistema operativo”.

Quando mudamos a nossa perceção, aquilo que passamos a querer deixa de ter a ver com o ego. Aprendemos a separar o que é realmente importante, passando a querer aquilo que nos é essencial, o que faz parte da nossa essência.

A grande maioria dos seres humanos está em algum estado de sofrimento simplesmente porque quer, quer coisas, vai à luta, conquista, com sacrifício, responsabilidade, medo ou ansiedade, etc, mesmos os que estão aparentemente bem de vida. Somos por natureza, seres que vêm para sofrer, isto se não fizermos algo em contrário. O problema está, como sempre, nos exageros na forma exorbitada como queremos superar tudo e todos. Temos e queremos muito mais do que precisamos. Apesar da nossa condição em tudo idêntica ao homem das cavernas, as nossas necessidades, aquilo porque lutamos, é exatamente o mesmo; Abrigo, alimento e reprodução, não passa disso porque no fundo tudo o resto é dispensável.

Deixar de querer simplifica, não há nada mais libertador do que separarmo-nos de um querer que nos constringe, que nos inflige algum descontentamento ou desconforto. Se sofremos com isso é porque há algo em nós que reflete esse sofrimento, há algo que precisa ser nutrido, alimentado.

Aceitar o que a vida nos trás como reflexo do que nela semeamos é o inicio do processo. Sabemos que as tempestades vêm sempre depois do vento semeado e que depois delas a bonança impõem-se como momento precioso de reflexão, de consciência e aprendizagem. Assim sendo, tomemos cuidado com o que plantamos a cada momento, acreditando que essa é a única forma de conseguir uma boa colheita, aquela que mereceremos.
Tudo conta, o Universo não desliga, tudo o que emitimos agora, pensamentos, emoções, palavras etc, são os verdadeiros materiais de construção do nosso futuro.
Não querer também é uma forma de querer. Não se trata aqui de deixar de querer tudo, temos sempre de querer coisas na vida, se não ela não faria qualquer sentido, trata-se de aprender a querer apenas o que é para nós simplificando, porque a vida, na sua essência é muito simples.

Agora avalie o que você quer, o que realmente importa para si e observe como se vai sentir depois de deixar de querer. Não se foque nos outros mas apenas em si.

Ficam apenas alguns itens para ajuda, a lista é infinita.

– Deixe de querer que os seus filhos sejam como você quer.
– Deixe de implicar com os seus familiares na tentativa de que eles alguma vez
mudem, isso não irá acontecer.
– Deixe de responder sempre que lhe levantam a voz. Difícil, não é?
– Deixe de fazer jeitinhos aos outros só porque sim, porque parece mal…
– Deixe de implicar com desarrumações ou coisas fora do sitio.
– Deixe de querer ter sempre razão, oiça, avalie se vale a pena lutar por essa
“bicicleta”.
– Deixe de se preocupar tanto com os resultados escolares dos seus
progenitores, seja como for eles serão o que quiserem. Responsabilize-os,
faça-lhes ver as consequências imediatas das notas que têm, isso é o melhor
ensinamento que lhes pode dar, tenha coragem
de levar a consola de jogos para o emprego durante uns tempos
– Deixe de lado as quezílias no local de trabalho, resolva ou desvalorize, afinal
você passa mais tempo lá do que em casa.
– Deixe de querer viver como se a morte não existisse, quando ela chega a
perceção que temos é que apenas passou um instante, tudo por um instante.
– Deixe de implicar no trânsito. Você quer o quê?
– Deixe de implicar com o seu corpo ou com parte dele.
– Deixe esse emprego que não valoriza as suas competências, a sua
criatividade.
– Deixe de fugir dos desafios que a vida lhe trás.
– Deixe de ter ciúmes.
– Deixe de criticar a vida alheia.
– Deixe de pensar que quando tiver a relação certa vai ser feliz.
– Deixe de querer saber tudo e mais que os outros.
– Deixe de querer ser perfeito.
– Deixe de fumar ..isso mata mesmo. O seu corpo é o seu templo.
– Deixe de se comparar com os outros.
– Etc, etc.
– Deixe lá…. Simplifique-se, liberte-se.

 

Carlos Dionísio