Desapego é colocar exatamente o mesmo sentimento e emoção no ato de comprar um copo e na altura em que ele se quebra!
No caminho da espiritualidade ou da abertura de consciência, como queiram chamar, o entendimento do que é o desapego e do que ele significa, é talvez um dos conceitos mais difíceis de entender pela maioria das pessoas, principalmente enquanto não estão imbuídas de um nível de consciência mais aprimorado.
A nossa estada neste planeta, nesta dimensão, é uma experiencia que escolhemos fazer na matéria para de alguma forma podermos evoluir tendo ou não tendo consciência disso, daí assim que nascemos, sermos confrontados com ela. Um recém-nascido não quer nada mas quando chega já há quem queira por ele, somos por isso rodeados pelas crenças da família, pelas condições em que somos criados. Progressivamente a educação leva-nos a pensar que ter, possuir ou controlar são requisitos essênciais para o sucesso e para almejada felicidade. Assim nasce o apego a tudo o que vamos adquirindo e conquistando, como se as perdas ou insucessos significassem um retrocesso na nossa caminhada e não havendo nada a aprender com isso. Agarramo-nos às coisas, às pessoas, às relações, ao passado como âncoras de um processo que normalmente tem o medo como grande impulsionador. Medo de perder, de não ser aceite, de não ser o melhor….? Tudo isso para quê? Porquê? A resposta é igual para todas as situações – Para no fim deste ciclo ser deixado, ser largado, nada disso interessa, nada disso nos acrescenta nada, por muito que não acreditem a resposta chegará mais tarde ou mais cedo ao coração e à alma de cada um, demore o tempo que demorar.
Relativamente a bens materiais, a aplicação da palavra desapego até é muitas vezes bem entendida mas quando se aplica a pessoas ou relações tudo se complica, logo surgem as crenças enraizadas da solidariedade, amor, paixão, pena etc. valores tidos como nobres e indiscutíveis, e são, mas tudo depende da forma como nos posicionamos perante eles, como os vivemos ou deixamos que esses valores estejam presentes na nossa vida. Se forem vividos de forma incondicional ou possessiva, sem terem uma consciência plena do processo de vida, tornam-se verdadeiros campos de batalhas emocionais.
Arriscaria a dizer que 90% dos relacionamentos ditos amorosos, terminam devido ao apego e ao sentimento de posse que há entre os casais. – ”O Meu marido… – a Minha esposa” – Mais tarde ou mais cedo, depois da fase cor-de-rosa das relações, esses sentimentos de posse acabam por condicionar a liberdade de cada um Ser. No fundo é aplicar o exemplo do copo, aceitar que nada é eterno, tudo existe apenas durante algum tempo. Deixar fluir as relações cientes do nosso desapego, da libertação necessária, de deixar o outro ser quem tem de Ser mas reevidicando também o nosso espaço. É esta a formula para que as relações sejam sempre gratificantes, não só enquanto duram mas até quando acabam, sem rancor, sem raiva, sem apego.
A prática do desapego é um estado de consciência e atenção permanente, não é fácil mesmo quando se atinge um entendimento e aceitação mais elevados. Mais importante do que aplicar o conceito, é senti-lo e isso não é fácil devido às crenças condicionantes que adquirimos ao longo da vida.
Como se desapegar de um filho? É mesmo necessário chegar a esse ponto? Perguntam muitas vezes. Meus amigos, desapegar não é deixar de amar, desapegar é deixar ser e aceitar que ninguém é igual e que o que é bom para nós, de acordo com as nossas crenças, pode não significar nada para os outros. Desapego não significa demitir-se de ser pai ou mãe, significa sim, impor limites necessários mas também respeitar os limites e as capacidades dos filhos, sabendo ouvi-los e aceita-los como seres diferentes de nós, os filhos não têm que ser o que ao pais desejam, têm apenas de ser o que tiverem de ser, eles vão descobrir isso se não os condicionarem e lhes derem a liberdade de escolha.
O desapego é transversal, não há exceções a não ser ele próprio, é o grande desafio que todos viemos enfrentar. Parece contraditório – Então viemos a esta vida para aprendermos a despegarmo-nos dela? – Não, dela não, mas de tudo o que nos condiciona a vive-la na sua plenitude de acordo com o nosso carma, desígnio, missão, como lhe queiram chamar.
Para praticar o desapego, talvez seja mais fácil começar pela parte material. Sempre que comprares algo não te sintas dono da coisa, nem deixes que isso alimente o teu ego, vê-te como utilizador temporário e sente a liberdade que isso te trás, o desprendimento, a tranquilidade de não ficar agarrado a nada. Podes e deves usufruir dessa coisa não pela posse mas pelo prazer que ela te proporciona. Aprende a desprender-te dos objetos, dá, oferece, vende tudo o que não uses mais, isso vai criar espaço energético de prosperidade na tua vida.
O Desapego é libertador, sem ele o verdadeiro conceito de liberdade não existe.
Viemos para nos desapegar porque o desapego e a sua prática abrem as portas para o amor verdadeiro, o amor incondicional, a partir dele que conseguimos revelar a nossa essência e dar finalmente a palavra à nossa Alma.