Um dia vais partir e deixar o rasto de quem foste
Deixar as coisas que julgaste ter
Deixar todos os que amaste, tudo o que construíste na matéria.
Finalmente terás a oportunidade de entender que nada disso vale, só o que construíste de bom dentro de ti é valioso na tua nova morada. Só tens de ser seletivo, trazer o que acrescenta à tua alma e deixar o que adia a sua ascensão.

Só o que deres de ti a quem cá fica será recordado, de bom ou de mau a escolha é sempre tua, se nada deres também nada levarás.

O amor, a compreensão, a tolerância, a compaixão, a gratidão, fazem crescer dentro de ti verdadeiros diamantes lapidados pelos anos que aqui passares e isso tu vais trazer contigo, da mesma forma, também podes trazer o ódio, a avareza, a violência que te transformam numa pedra rude, áspera e insensível.

Um dia vais partir numa viagem que já fizeste múltiplas vezes, mas que se perde sempre no véu do teu esquecimento. Uma rota, um destino que tua alma já conhece e à qual voltarás sempre que for preciso, até ao dia em que não precisarás mais voltar.

Eu sei, só de pensar faz crescer em ti uma solidão imensa, uma viagem aparentemente só de ida, sem esse corpo físico, mas com a tua alma. A tua bagagem será apenas o que construíste dentro de ti, tudo o que trouxeres se juntará ao que já cá tens acumulado de outras experiências por ti por enquanto esquecidas.

Muitos partem agarrados ao que fica, uma prisão, uma ilusão de vidas nunca perdidas, mas indefinidamente adiadas, indefinidamente sofridas.

Escolhem viver a ilusão do tempo, da matéria, daquilo que sempre se perde na intemporalidade da alma. Por isso, se tens de soltar, se tens de te libertar-te de algo, faz isso enquanto aí estiveres, esta é a tua oportunidade de limpar carma. Fica a saber que ele anda sempre de mãos dadas com a ilusão da tua mente inferior, na tua psique, em tudo o que te envolve, nas tuas emoções, nas tuas ambições e em tudo o que fazes e sentes, está de tal maneira envolvido com tudo isso que por vezes é difícil escolher e saber o que realmente importa para teres consciência dele, mas esse é o desafio é a charada que tu próprio tens de resolver.

Um dia vais partir, mas até lá, tens de cumprir esse plano que levaste, escolheste assim, assim será.

O grau de sofrimento que viveres será inversamente proporcional ao trabalho cármico que realizares. Se te alinhares com ele, o sofrimento a existir, será sempre vivido com consciência, como uma aula ou um exame a ser superado. Se não estiveres alinhado com o teu propósito cármico, não verás qualquer sentido no teu sofrimento, mas ele nunca deixará de ser também uma aula ou um exame ao qual resolveste faltar. E isto poderá repetir-se quantas vezes forem precisas até te tornares num aluno assíduo e aplicado.

Um dia vais partir, num simples piscar de olhos que não mais se voltam a abrir para ver a densidade em que viveste, mas que se mantêm abertos para descobrir outro nível desta mesma realidade.

Vivo estarás sempre.

Tudo faz parte do mesmo, a vida e a morte são a mesma realidade, têm um propósito comum, separá-las é o mesmo que querer a luz sem sombra, querer a terra sem água, ou o fogo sem ar. Há um nutrimento mútuo é assim a dualidade. Aprende pois, a lidar com a vida e com a morte, não te limites a adorar uma e a rejeitar a outra pois dessa forma estarás a conhecer apenas uma parte de ti.

Um dia vais partir

As lágrimas se as deixares cair, poderão ser de tristeza ou de alegria, poderão ser de medo ou de amor pela despedida, tudo depende do que aqui fizeres, tudo depende apenas de ti.

Um dia vais partir, nunca te esqueças disso

…e irás chegar a um outro lugar e outro lugar e mais outro lugar…. sempre a subir, cada vez mais alto, cada vez mais perto de mim.

…à conversa com o mestre da emoção 

Carlos Dionísio

21/04/2021