‏Hoje senti alguém, senti como pode ser importante apenas saber escutar,  Senti-me vivo, mais vivo ainda e com mais certezas em relação aquilo que sou e ao que quero ser.

Estar disponível para os outros, saber escutar, interiorizar e dizer a palavra certa no momento certo ou simplesmente não dizer nada.

Cada vez mais precisamos de ser escutados, algo diferente de ser ouvidos. Saber escutar é uma atitude difícil, já que exige o domínio de si mesmo e implica atenção, compreensão e esforço para captar a mensagem do outro. Significa dirigir nossa atenção ao outro, entrando no seu âmbito de interesse e no seu ponto de referência.

Basta sair à rua e logo somos confrontados com pessoas que precisam de conversar, desabafar, mas a dificuldade maior, por incrível que pareça, continua a ser encontrar quem saiba ouvir/escutar. Há pessoas “especializadas” em falar mas especializadas em saber escutar é uma raridade, cada vez há menos.

“Falar é uma necessidade, escutar é uma arte” Johann Goethe

Escutar é antes de mais um exercício de serenidade, abertura de alma, abrirmo-nos às palavras que nos dizem, aliadas aos sinais que nos vão chegando, o olhar, as expressões, os sorrisos, é esse conjunto de informações que nos podem levar a entender profundamente alguém. Pelo simples facto de o sabermos fazer, podemos transformar o dia de uma pessoa, basta dar-lhe atenção.

Aqui há dias sentei-me num banco de jardim, pretendia ficar uns dez minutos apenas para fazer tempo, eis que se senta ao meu lado uma senhora já de idade que me pergunta as horas.
– Sabe!? A vista já não é o que era, tenho relógio, mas não consigo ver nada. Durante os quinze minutos seguintes ouvi a história de uma vida contada pela própria protagonista, à medida que o discurso evoluía não consegui deixar de visualizar todas aquelas situações, lugares, alegrias e sofrimentos vividos. Correu na minha mente um livro que não escrevi, mas que guardo dentro de mim, pois em apenas quinze minutos tive o essencial de uma vida de 88 anos. Não me lembro de ter dito mais do que duas palavras de cada vez para manter o contacto. – Sim! pois é! é a vida! Mas também não tinha que dizer mais nada, o meu papel era apenas de ouvinte, ou melhor; “prestador de atenção” e foi o que fiz deliciado.

Despedi-me e recebi um; “Deus esteja consigo e lhe dê saúde para si e para os seus”. Tive um papel passivo mas foi exatamente por isso que, quinze minutos depois, era um homem mais rico, pois as palavras que ouvi não foram da boca para fora mas sim da Alma para fora e essas tocam-nos mais profundamente.

Se aprendermos a escutar acabamos por encontrar muitas das respostas aos problemas ou dúvidas que muitas vezes pretendemos resolver impondo a nossa palavra. Saber escutar não implica logicamente estar calado, pois só assim teremos diálogo, mas devemos reservar boa parte desse diálogo para a escuta atenta. É tão importante saber quando falar como saber usar o silêncio.

O essencial da vida, o resumo que um dia faremos serão apenas as boas emoções, as pessoas ou situações que nos fizeram sentir algo forte e marcante, por isso é importante encher a vida de coisas boas, de pessoas boas, de sentimentos bons, tudo o resto se esvaziará, primeiro das nossas mentes e depois das nossas vidas.

out/2014

Carlos Dionísio