Muitas vezes nos perguntam o significado da frase; “Para ser infinito basta Ser”. E o que significa a conexão com o nosso Ser? Com o nosso Eu? Para quem já aprofundou alguma prática espiritual, meditação, oração, etc, saberá do que estamos a falar, mas para a generalidade das pessoas é confuso entender. Sendo elas quem São, entender que existe um outro Eu com o qual se devem conectar…Humm…meio confuso? Não é?

Explicar isto é algo complexo, pois de uma forma geral espera-se sempre uma informação ao nível da mente, alguma explicação por palavras que lhe permita entender o que significa, podendo a partir desse entendimento procurar o seu outro Eu. A dificuldade de explicar tal significado é que ela não é explicável pela mente, mas sim pelo coração. A explicação não existe, mas sente-se, vive-se internamente, sem qualquer interferência da mente, por isso é difícil de entender. D e uma forma geral o ser humano tem a sua mente, diria, super-ativada, impedindo-o de percecionar tudo o que vá para lá dela. Não há uma explicação mental, mas há uma explicação para cada um conseguir adquirir a capacidade de vivenciar e fazer essa conexão, sendo ela diferenciada para cada um de nós.

Este foi e é, o grande desafio dos grandes mestres espirituais. Jesus e Buda por exemplo, depararam-se com um enorme deserto que separava os seus ensinamentos das pessoas, o deserto da mente, que nada tem, que nada conta para este fim. Usaram parábolas e exemplos com superior imaginação, para de alguma forma conseguirem levar as pessoas a terem práticas e comportamentos que os levassem naturalmente a essa conexão. O encontro com o Eu Superior tem de ser conquistado pelo livre arbítrio, por isso ele nos foi dado e não por qualquer outra razão, essa é a derradeira causa da sua existência.

Outra pergunta; E para quê essa conexão?

Podemos responder projetando um cenário; se o ser humano à nascença tivesse essa conexão, viveríamos num mundo completamente diferente, onde o nosso propósito de vida não teria nada a ver com a atual realidade. Viveríamos num estado de consciência que nos permitiria resolver todos os problemas da humanidade, partindo não da consciência coletiva, mas sim da perceção individual de cada um relativamente ao todo. A ligação com o Eu Superior traz a cada ser humano a possibilidade de ter o entendimento profundo sobre o seu propósito de vida, traz a verdade sobre algo maior, algo a que todos pertencemos. É a conexão que nos guia e que nos dá o rumo a seguir para que cumpramos com o nosso propósito cármico do momento, e todos temos um, não duvidem, ou então não estaríamos aqui.

A conexão com o Eu Superior é algo bom, muito bom, muito prazeroso, vive-se a sensação de bem-estar, de refúgio, de entendimento, de harmonia para com os outros e nós próprios. Tem-se acesso à maior enciclopédia do ser humano que somos nós, o nosso Google privado onde encontramos todas as respostas, basta aprender a ouvi-las ou senti-las.

O que propomos hoje é trazer-lhe um pouco da sensação de estar conectado com o seu Eu Superior, a partir de situações agradáveis já vividas. É muito pouco, apenas uma pequena amostra, mas já é algo, se este pouco despertar algo em si, já valeu a pena. São pequenos momentos de felicidade e plenitude que todos já vivemos, muitas vezes ficam-nos na memória, e quase sempre queríamos que nunca acabassem e se prologassem no tempo. Para quem ainda não estabeleceu esta ligação poderá ficar com uma pequena ideia sensorial a partir da sua própria experiência já vivida.

No fim devemos pegar nessas sensações, nesse bem estar que trazemos na memória e imaginar que o prolongamos por todos os momentos da nossa vida, isso é algo parecido com a conexão ao seu Eu Superior, transportando no tempo essa plenitude do Agora vividos nesses momentos. Não queremos dizer com isto que por magia, todos os problemas desaparecem das nossas vidas, não é isso, passamos é a ter forma de fazer as escolhas certas para que gradualmente a vida se pacifique e nos tornemos mais conscientes daquilo que vivemos, alinhados com o nosso propósito. A leveza e a consciência desses momentos é trazida para cada situação que vivemos. Nem tudo é fácil ou agradável de ser vivido, a forma como o vivemos é que faz a diferença.

Todos nós já vivemos a experiência de estar sós a olhar o horizonte de um ponto alto ou à beira mar; de olhar o nascer e o pôr do sol; de ficar mergulhados na natureza ouvindo os sons que nos rodeiam; observar um céu cheio de estrelas; olhar uma lua cheia brilhante, sentir o sol na pele, etc. Conseguimos certamente, trazer até este momento a sensações vividas nesses instantes. Sentimos a imensidão, a ligação ao todo, a libertação. Por breves instantes, logo assim que o cenário nos surge, algo acontece para que essas sensações nos invadam, quase nunca damos por isso, mas a nossa mente deixa-nos por instantes, deixa que uma sensação de bem estar nos chegue, por alguns momentos todas as preocupações deixam de estar presentes, todas as tensões, dando lugar a algo leve, sereno, calmo. Libertamo-nos do ego porque nos projetamos em algo maior, porque simplesmente nos damos a esse momento.

Peço agora que por breves instantes e de olhos fechados, tentem trazer até este momento algumas dessas sensações já vividas. Respirem 3 vezes longa e profundamente e deixem vir até vós essas memórias …Deixo-vos por alguns instantes….

Entendem agora, porque tantas pessoas sentem a necessidade de se isolar? de ir para a beira mar? para a natureza? Elas buscam apenas esses momentos de serenidade, e que mesmo sendo breves, as aproxima da necessidade de se ligarem ao seu Ser, há sua natureza. Mesmo sem saber o porquê, elas trazem consigo essa energia, sentem-se recarregadas da sua energia vital e que lhes dá alento para continuarem nas suas vidas “lá fora”.

Esta necessidade é natural, a ligação ao nosso Eu Superior é algo que nos é pedido porque é essencial num propósito de vida elevado. Precisar de voltar à natureza, ao isolamento, ao sol, ao mar de tempos a tempos, é algo que a nossa Alma reclama quando se sente sufocada pelo ego, pela mente, pelo medo e pelas crenças que nos limitam.

O que sentimos nestes instantes é algo parecido quando aprendemos a silenciar a mente através da meditação, silenciamos e damos espaço para que essas sensações, esses sentimentos, essas emoções, surjam em nós. Tudo isso está em si, apenas acontece dentro de si, porque o sol, o mar, a natureza sempre lá estiveram, disponíveis, tal como o seu Eu superior lá está à sua espera, sempre, infinitamente.

O que nos perturba, o que nos faz sofrer, apesar de aparentemente vir de fora, está sempre ligado a algo que está em nós, algo que não conseguimos percecionar. A nossa conexão traz-nos o outro lado da história, a outra visão das coisas, aquilo que o ego teima em não aceitar, liberta-nos.

Agora imagine que traz todas essas boas sensações para todos os momentos da sua vida, não precisa de “fugir” para a praia, para longe de tudo. Em qualquer lugar, em qualquer situação você tem isso consigo, adquire a capacidade de resolver tudo da melhor maneira, de reagir e de se posicionar da melhor forma, a mais correta, a mais natural, a mais assertiva, a sua forma moldada pela sua intuição, pois é nesses instantes que ela se manifesta.

Pode ter isso todos os dias se aprender a procurar dentro de si, se meditar, se praticar e se acreditar que assim será. Vai sim, continuar a errar muitas vezes, vai também ficar maravilhado com os resultados, vai ter dúvidas, tensões, vai ficar imensamente agradecido, vai continuar a viver isso e muito mais, isto porque você continua vivo, mas muito mais consciente de si, daquilo que realmente você É.

Carlos Dionísio

12/05/2020