Direta ou indiretamente, o estresse é muitas vezes apontado como causador de imensas doenças. A definição de estresse é vaga e abrangente, – “Conjunto de perturbações orgânicas e psíquicas provocadas por vários estímulos ou agentes agressores, como o frio, uma doença infecciosa, uma emoção, um choque cirúrgico, condições de vida muito ativa e trepidante”

Mais recentemente apareceu o conceito de Burnout definido pela OMS como: “síndrome conceituada como resultante do estresse crónico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”. É caracterizada por sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia; aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho; e redução da eficácia profissional. Apesar de constar na classificação internacional de doenças, a síndrome não é classificada como doença ou uma condição de saúde, mas um fenómeno ocupacional, de acordo com a OMS.

Burnout = Esgotamento. Quando algo se esgota é porque chega ao seu limite, quando algo se esgota é porque não se fez uma gestão correta dos recursos.

O estresse é na sua essência, um poderoso mecanismo de defesa que faz parte do ser humano e da sua capacidade de se defender do meio ambiente. Os animais também o usam sempre que se sentem ameaçados, é uma forma do organismo reagir ao perigo e a situações adversas, para isso produz substâncias que sobre estimulam os músculos e o cérebro, ampliando os sentidos, criando as condições para que possamos reagir da melhor forma, é por isso algo natural em nós.

O estresse é constituído por três fases: alerta, resistência e exaustão. De uma forma simplificada podemos dizer que o alerta despoleta o mecanismo, a resistência é o processo de reversão ao estado natural, e a exaustão é quando essa reversão não se dá.

Na origem do estresse encontramos o medo, daí o estado de alerta. O medo que entendemos que surja quando a nossa vida está em risco, quando temos de fazer face a uma situação difícil, etc. Se passamos por um estado de estresse, e uma vez ultrapassada a situação, deveremos regressar ao normal. O que leva ao esgotamento é mantermo-nos demasiado tempo no estado de exaustão, ou seja, o medo constante de algo. O nosso corpo não suporta muito tempo esse estado, como o medo está presente, o corpo aciona o mecanismo de defesa, ele não sabe se a ameaça está presente, só interpreta a emoção, e enquanto ela se mantiver, ele reagirá como tal, pois trata-se de mecanismos inconscientes em nós.

Se falamos do trabalho como um dos elementos provocadores de estresse, e se o medo está na sua origem, onde está o medo no trabalho? Onde está o medo que provoca o estado de alerta? A pergunta que deve ser feita a alguém estressado é: Do que é que tem medo? Na busca desta resposta, nada fácil de responder, poderemos encontrar não só a solução para o estresse, mas também para muitas questões relacionadas com a própria existência. O que é que leva alguém a por em risco a própria vida? A esgotar-se na sua existência?

Podemos apontar inúmeras causas que supostamente provocam estresse: Situação no emprego, ou falta dele, autocobrança, situação económica ou familiar, relacionamentos, excesso de trabalho, etc, mas na sua origem todas elas se resumem ao medo. É o medo que move a maioria das pessoas. Medo de perder o emprego, medo de não ter, de não conseguir, de não ser o melhor, medo de não cumprir com os compromissos assumidos, medo de falhar, medo de reverter expectativas, medo do futuro, medo de não ser aceite, medo de ser apontado, medo de ser excluído, medo e mais medo. Se excluirmos o medo da nossa vida podemos imediatamente constatar que tudo se torna mais fácil, mas também poderemos questionar que sem essa tensão que arrastamos connosco, a humanidade não evoluiria, nada conseguiríamos na vida. Será?

Será que há pessoas que trabalham 12 horas por dia sem estresse algum? Será que não há pessoas que acabam o seu dia de trabalho com uma felicidade imensa e já na espetativa do dia seguinte? Será que há pessoas que apesar do seu trabalho, conseguem distinguir o que é trabalho e o que é equilíbrio físico, psíquico e emocional? Será que há pessoas que encaram cada dia sem medo do dia seguinte, aceitando e querendo apenas o que é para si? Será que há pessoas que sabem realmente quais são as suas necessidades enquanto seres humanos?

Falamos até agora de estresse relacionado ao trabalho pois é a ele que normalmente, e a meu ver erradamente, é associado. Na verdade o estresse está em todas as áreas da vida. Como se houvesse um estresse ying e outro yang, um passivo e outro ativo, um provocado por excessos e outro provocado por faltas. Em ambos podemos encontrar o medo e o despoletar dos mesmos mecanismos de defesa inconscientes. Tenhamos como exemplo o estresse vivido muitas vezes após a idade da reforma, onde supostamente, após a vida ativa, deveria deixar de existir, mas não deixa porque o medo que provoca estresse, na maioria das vezes, não vem das circunstâncias externas, mas sim de dentro de cada um. Em última instância podemos apontar a morte como a grande e derradeira causa de estresse, até lá o confronto e a desadequação em relação à vida são os grandes provocadores do medo.

Esta é a diferença, VIVER SEM MEDO, mas com responsabilidade e consciência de que aquilo que se faz, tem a ver com o nosso bem estar, com a nossa essência e não com outros valores. Viver sem medo do que pode acontecer, na expetativa de uma realidade que ainda não existe e que limita a vivência plena do momento presente. As crenças, que vão tomando forma ao longo da nossa existência, influenciadas por inúmeros fatores que nos rodeiam, definem a nossa capacidade de decisão. Se tivermos uma crença que nos impele a trabalhar até à exaustão, o medo encontra-se na origem mais profunda dessa crença que muitas vezes nos chega imbuída de uma consciência social ou familiar que nos faz crer, que esse é o caminho, na maioria das vezes nem questionamos essa premissa no sentido de averiguar se ela realmente serve o nosso propósito, isto porque nunca fomos educados para duvidar da nossa mente, aquilo em que acreditamos é a nossa verdade, para lá dela existem sempre outras realidades a que nunca acederemos se não nos pusermos em causa.

Para se adquirir consciência onde o medo nos afeta e condiciona, à que promover a conexão com a nossa essência, aprender a ouvir o que de mais sagrado existe em nós, que quase sempre se encontra ofuscado pelo “barulho” da mente, pelas luzes da ribalta, algo que ela sempre nos promete mas nunca cumpre. Deixar de vibrar no medo e vibrar no amor faz toda a diferença, soltar o lado possessivo do ego para encontrar o equilíbrio e a serenidade da mensagem que existem em nós para nós.

Quando vir alguém estressado, em vias de esgotado, pois é tudo uma questão de tempo, pergunte-lhe: Do que é que tem medo? Ou faça a pergunta a si próprio, mesmo que não consiga a resposta imediata, saiba que ao faze-la você está a abrir um portal imenso dentro de si, está a questionar profundamente tudo o que vive e viveu até agora, está a abrir o portal do amor, aquele que lhe dará as respostas que talvez hoje não consegue ter, mas que com o tempo lhe vão chegar, não como a sua mente as idealiza, mas sim como a sua intuição lhas fará sentir.

Carlos Dionísio