Já pensou quantas coisas deixa de fazer na vida por medo? Pense durante uns instantes em algo que sempre desejou e nunca fez, em algo que sempre quis dizer a alguém e nunca disse, em algo que sempre quis mudar e nunca mudou. É bem provável que no âmago das respostas esteja sempre a palavra medo. Medo da resposta, medo da consequência, medo de perder, medo de não conseguir, medo de falhar, medo de não ser aceite, medo de ser rejeitado, medo e mais medo.

O medo é intrínseco ao ser humano, ele é sem dúvida uma forma de nos defendermos ou de evitar situações que nos ponham em risco. Desta forma o medo restringe, impede, limita. Entende-se que na pré-história os homens tivessem medo de enfrentar animais de grande porte pois sabiam por experiência que não teriam sucesso, o medo levou a que recorressem da sua inteligência para os levar de vencida. Nesta perspetiva entendemos como o medo continua a ser útil, de uma forma prática e digamos, mais de defesa da integridade física.

Quando levamos o medo para outros aspetos da vivência humana, percebemos que ele nos limita porque desde que nascemos fomos envoltos em pressupostos e conceitos da sociedade, de educação e da família que nos limitam a ser quem na verdade somos, isso gera medo, medo de rejeição, de falhar etc.

Desde tenra idade que somos induzidos a escolher pelo medo e não de uma forma natural, pela nossa intuição e pelo amor que em primeiro lugar devemos ter por nós próprios. Numa primeira fase de vida é quase inevitável que sejamos levados por esse caminho, seguindo as convenções, a “normalidade” para a partir daí conseguirmos a excelência e o almejado sucesso. Queremos inclusive um sucesso que seja aceite e admirado não pelo que somos, mas pelo que fazemos e pelas opções induzidas que fomos tendo na busca de uma falsa verdade. Um sucesso baseado na posse, no poder, no domínio e na escalada de uma hierarquia social ilusória que apenas nos leva ao vazio.

A “Luta” é constante, a vida pede sempre mais, mais trabalho, mais preocupação, mais responsabilidade e quase sempre o sucesso idealizado que devia ter sido atingido aos 25 passa para os 30 e depois para os 40 e por aí começam a fazer-se as contas, é hora do balanço. Se muito já se conseguiu porquê a insatisfação? Se pouco se conquistou, afinal o que correu mal?

No fundo destas respostas encontramos sempre o medo. E porquê? Porque ele se substitui ao Amor quando temos de dizer algo, quando temos de fazer escolhas, de tomar decisões ou atitudes.

Sempre ouvimos falar no par “amor-ódio” como dois opostos, mas isso não corresponde à verdade, se depois do amor veio o ódio é porque nunca houve amor, não existindo amor o ódio passa a ser resultante de outro sentimento que não o amor. Raiva, vingança talvez, mas não amor. O grande antagonista do amor é o medo.

Passamos o dia a tomar decisões e a interagir com o ambiente em que vivemos, desde decidir a hora de nos levantarmos, o que fazer, quando fazer, o que dizer ou não dizer, o que comer etc. Tudo requer decisão até os nossos pensamentos, aliás tudo começa aí. Não quer dizer que tudo o que fazemos é por medo, mas existe uma espécie de névoa, um ambiente de medo que nos influencia nos mais ínfimos pormenores, que nos leva a continuar, a não romper, a aceitar, mesmo que isso nos desagrade e nos faça sofrer. É tão subtil, que levamos anos, por vezes vidas a apercebermo-nos disso.

Temos medo de amar para não sofrer e encontramos justificações. Temos medo de mudar de trabalho, de relação e aceitamos ficar. Temos medo de nos aventurar porque não há certezas e o fracasso é uma possibilidade, temos medo de perder o que temos e pomos todo o empenho em conservar, temos medo de perder o controle e ficamos presos a isso.

No medo não há liberdade, a sua decisão vai sempre reprimir o melhor de si, aquilo que é da sua essência, aquilo que o faz e fará feliz.

Escolher o Amor é escolher-se a si a cada momento, não numa perspetiva egoísta de menosprezar os outros, mas de saber discernir quando é apenas para nós. Escolher o Amor é escolher pela sua intuição mesmo indo de encontro ao estabelecido. Escolher o Amor é ouvir-se, ouvir os outros, ser justo e fazer o que tem de ser feito. Escolher o Amor é assumir toda a responsabilidade pela sua vida. Você é a causa de tudo o que viveu e vive até hoje. Escolher o Amor é respeitar tudo e todos. Deixar que os outros sejam é uma forma nobre de sermos nós próprios. Escolher o Amor é acreditar, ter fé, que mesmos não sendo perfeitos devemos continuar numa busca incessante para sermos cada vez melhores. Escolher o Amor é aceitar tudo o que a vida nos traz como fator de evolução, sem euforia, mas também sem vitimização.  Escolher o Amor é ser solidário é saber que todos somos diferentes, que todos temos Karmas e vivências diferentes, mas que mesmo assim fazemos parte de um todo. Escolher o Amor é simplesmente escolher pela sua Alma, você pode não saber, mas ela sabe o que é melhor para si, ouça-a.

 

Carlos Dionísio _/\_