Ter um filho é uma bênção do Universo, normalmente é isso que sentimos desde o dia que eles chegam até nós. Depois de nos libertarmos da preocupação de que tudo venha a correr bem, relaxamos e começamos a usufruir desse sentimento indescritível de ser pai ou mãe. À que garantir o bem estar do pequeno ser a todos os níveis, amor,alimentação,conforto etc…
Isto é o que normalmente chamamos o culminar de uma decisão que deverá ser ponderada e consciente, todos sabemos que nem sempre é assim, muitas vezes até adiamos esse momento contra a nossa biológica vontade só porque damos prioridade ao nosso conforto e depois sim, haverá condições para, outras vezes por mais que se façam planos o inevitável acontece. Seja como for a verdade é que sempre queremos o melhor para eles. Cada um ao seu jeito saberá o que é esse melhor e ao proporcionà-lo sentimos-nos pais esforçados e cumpridores.

A caminhada começa, as fraldas, as papas, o primeiro sorriso, a primeira palavra e cada vez achamos que eles são mais nossos, porque tratamos deles, porque lhes damos amor, carinho e eles nos devolvem aquilo que muitas vezes falta em nós, o Amor incondicional, é isso que eles nos devolvem nos primeiros anos de vida e é isso que eles esperam de nós, Amor incondicional, só isso, esse Amor sem troca sem cobrança. Depois quando a “novidade” passa eles são mais alguém que fica ali “misturado” no dia a dia, na luta como tantos dizem. Misturados nos processos judiciais nas lutas de egos, nas chantagens emocionais, isso para alguém que apenas pede Amor incondicional não é fácil de entender, diria antes Sentir porque tudo isso provoca emoções e sentimentos nas crianças que as marca profundamente e que estão longe do seu entendimento racional. Mas o que vos quero dizer não tem particularmente a ver com crianças de pais separados pois em todos os núcleos familiares se encontram bons e maus exemplos, não podemos generalizar, quando se trata de pessoas a relacionarem-se não há generalidades pois cada um encerra em si uma pequena e desconhecida porção do Universo.
No quotidiano surgem mais preocupações a cada dia, mais tarefas etc.etc, a vida segue e nós vamos-nos dividindo entre os pais que devemos ser para os nossos filhos e aquilo que a sociedade espera de nós e deles. Há que trabalhar, ir em frente.Começamos a incutir-lhes a “educação” os nossos valores, os nossos princípios de vida sejam eles quais forem, bons ou maus, quem pode nessa matéria dizer o que é bom ou mau?  A sociedade onde crescemos e vivemos é que nos leva a alimentar crenças do que é certo ou errado, não é apenas a sociedade por si só mas também a interpretação que fazemos dela. Se não tivermos uma consciência desperta será fácil seguir o caminho das maiorias, elas estão por todo lado e trabalham o nosso subconsciente de uma forma subtil mas avassaladora e que nos leva a agir de acordo com os padrões que nos fazem acreditar que sim, que é melhor para nós.
As maiorias sabem de que coisas o nosso ego se alimenta e ele gosta de ser alimentado, nem que seja por instantes e dessa forma temos uma sensação de preenchimento e bem estar. Corremos atrás, passamos a vida a correr atrás, porque depois dessa sensação vem logo o vazio, simplesmente porque nada do que vem de fora nos preenche.

Os pais também são levados pelos padrões sociais. Logo que as crianças adquirem consciência da sua existência, começam por manifestar as carências que sentiram até aí e iniciam-se os conflitos, elas querem, os pais querem. Dificilmente os pais aceitam ser culpados pelo facto de um filho com três anos fazer birras constantes, ser irrequieto etc, etc. Não percebem que à três anos atrás receberam um ser inocente, puro e que possivelmente não o preencheram totalmente, faltou qualquer coisa nesse processo. Não quero com isto dizer que todas as crianças irrequietas são mal educadas ou carentes, longe disso, todos os pais fazem o melhor que sabem e podem, seja isso muito ou pouco para as necessidades das crianças, mesmo assim, seja como for, cada um tem os pais que precisa. Resta-nos o conforto de saber que nunca é tarde para reverter o que quer que seja, basta apenas mudar algo em nós.

Seguimos o padrão, a escola, a educação a formatação coletiva, unificadora, às vezes até escolhemos um colégio melhor mas o resultado é o mesmo, só sai mais caro :). O padrão socialoide diz-nos que se formos bons na escola, iremos ter sucesso na vida, porque teremos melhores empregos, melhores casas, melhores carros, seremos mais “felizes” etc…e pronto, aí vamos nós tal qual cordeirinhos a correr a trás do sucesso e a pôr de parte tudo o que Alma nos pede para fazer, para SER, sim porque quase sempre ela contraria o padrão, simplesmente porque não há padrão da alma, cada pessoa, cada criança é única, vem viver a sua especificidade na matéria e tem de ser entendida como tal.
Quero dizer que não devemos colocar os nossos filhos na escola? Claro que não. A escola é importante tal como muitas outras coisas na vida da criança devem ser, não pode é ser considerada a Mais importante…Tudo é importante, esse é o principio basilar da educação. Como pais, antes de começar a educar, devemos aprender a ouvir, a sentir, a percepcionar as necessidades dos nossos filhos e depois encaminhá-los pelo seu percurso natural, pelos seus gostos, valorizá-los pelo que mais gostam de SER e de fazer, isto desde a mais tenra idade. Dá trabalho? ah pois dá… mas depois, mais tarde vem a recompensa, porque são eles mesmos, incutidos dos seus valores, dos seus próprios gostos que vão rejeitar naturalmente o tal padrão socialoide, como crianças valorizadas, incutidas de personalidade e consciência.
Cada filho é um filho que vem em busca de algo diferente.. Não comparem os vossos filhos e agradeçam o facto de eles serem tão diferentes, tão únicos, tão maravilhosos.

Quando os obrigamos, quando decidimos contra a vontade deles, sem entendimento, sem diálogo, quando exercemos o nosso poder como pais é por medo, um medo egoísta, medo de virmos a sofrer por eles não serem bem sucedidos. Há sempre muita dificuldade em aceitar que uma escolha que aos nossos olhos é errada, possa ser um fator de aprendizagem, um bater com a cabeça na parede. Entregar, deixar acontecer não é fácil mas é o que tem de ser feito, só assim eles aprendem as lições que a vida lhes reserva. Proteger nem sempre é um verbo que se deve usar como algo positivo.

Descubram o ser humano que há dentro dos vossos filhos, ouçam o que eles têm para dizer, descubram os seus talentos, valorizem-nos, dêem-lhes oportunidade de os desenvolver, de crescer, deixem-nos fazer as suas escolhas mesmo que isso não vos pareça o melhor, o processo é deles, a vida aprende-se vivendo, soltem-os, entreguem-os à vida, o vosso trabalho como pais está feito, eles serão sempre o que terão de ser, depois é só ficar a ali na vida a compartilhar, a viver. Mostrem-lhes as alternativas, tudo o que está para lá do que sociedade mostra e esconde, é isso que faz a diferença. Façam do processo dos vossos filhos também o vosso próprio processo, são essas as lições que eles nos trazem para aprender, mostrem-lhes o que há de belo, o que há de sublime na natureza, o que há de bom nos outros, aprendam a pôr-se no lugar dos outros, aprendam a aceitar o sofrimento, aceitar que a vida não é só alegria, mas também não é só tristeza. Aprendam a valorizar e a expandir o melhor que há em vós…a felicidade é isso…SER quem no fundo somos, sem filtros, sem máscaras, sempre de dentro para fora.

Carlos Dionísio

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